Nos últimos anos os Estados Unidos buscaram revitalizar sua base industrial por meio de políticas públicas mais ambiciosas, como o CHIPS and Science Act e o Inflation Reduction Act, focadas na reindustrialização e na competitividade tecnológica. Porém, este esforço tem encontrado um desafio estrutural: a falta de mão de obra qualificada. Esse desafio, que está sendo agravado pelas políticas do segundo mandato de Donald Trump, está intimamente ligado às crescentes restrições impostas à imigração legal e ao endurecimento da política migratória nos Estados Unidos. Assim, o texto traça breves considerações de como tais restrições migratórias afetam diretamente a efetividade da política industrial americana.
A retórica anti-imigratória de Donald Trump revela um possível paradoxo entre as necessidades econômicas estadunidenses com suas políticas de fato. O presidente, desde sua candidatura, ataca a imigração e os imigrantes, falha em perceber um dos principais problemas de seu país e usa de discursos xenofóbicos que afastam possíveis soluções. Trabalhadores latino-americanos são vistos como fundamentais para o funcionamento da economia americana por muitos especialistas, ocupando postos muitas vezes rejeitados por trabalhadores nativos, e são cada vez mais afastados e expulsos durante o segundo mandato do presidente republicano.
A escassez de mão de obra qualificada enfrentada pelos Estados Unidos, que desde o final da pandemia, em 2022, registrou uma vacância de quase 3,5 milhões de trabalhadores americanos, se tornou evidente. Isso resultou em um cenário no qual o número de vagas de emprego supera a quantidade de pessoas dispostas a ocupá-las, apesar de não afetar todos os setores de emprego igualmente. Esse déficit afetou, sobretudo, os setores de construção civil, cuidados pessoais, logística e tecnologia, áreas estratégicas para a execução da política industrial. Essa insuficiência de trabalhadores escancara mais ainda a dependência dos Estados Unidos na mão de obra estrangeira.
A hostilidade contra imigrantes tem afastado profissionais qualificados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, em especial, nos setores de cuidados e hospitalidade. Além disso, a dificuldade de obtenção de vistos de trabalho (como os H-1B) e as incertezas quanto ao status migratório tornam o país menos atrativo para talentos estrangeiros. Isso diminui a disponibilidade de profissionais com competências técnicas especializadas e causa entraves na execução de projetos industriais e tecnológicos, o que atrapalha mais ainda os planos de desenvolvimento econômico interno a nível doméstico. No setor de tecnologia, por exemplo, a exclusão de trabalhadores estrangeiros ameaça a capacidade inovadora das empresas americanas. A escassez de engenheiros, programadores e especialistas técnicos compromete os objetivos de expansão da produção doméstica, especialmente em áreas de alta complexidade como semicondutores, inteligência artificial e energia renovável.
Ao desestimular a entrada de trabalhadores estrangeiros e dificultar a permanência de profissionais qualificados, os Estados Unidos comprometem sua capacidade de inovação, sua produtividade industrial e sua competitividade global. Portanto, fica evidente que a política migratória restritiva adotada nos Estados Unidos, especialmente sob o segundo mandato de Donald Trump, colide com os objetivos estratégicos da política industrial estadunidense. A tentativa de reindustrialização, por meio de iniciativas governamentais, exige não apenas investimentos financeiros e incentivos fiscais, mas sobretudo uma base de capital humano — algo que, no atual cenário, só pode ser suprido com uma política migratória coerente e funcional.