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O boicote da nova turnê internacional de Bad Bunny em paralelo ao escalonamento de tensões políticas internas nos Estados Unidos

Giovani Paschoalino de Souza Oliveira | 23/06/2025 11:53 | Análises
IMG Bad Bunny, reprodução Facebook

Neste último mês o cantor Bad Bunny anunciou que embarcaria em uma nova turnê mundial intitulada de “DeBí TiRAR MáS FOTOS’ World Tour”, após esgotar uma residência de shows em Porto Rico. A novidade aos fãs do cantor porto-riquenho foi revelada em sua conta oficial do Instagram, em um pequeno vídeo apresentando locais onde a turnê passará, como: Europa; Caribe, América do Sul e América do Norte; Ásia e Oceania.


Enquanto o público do cantor recebeu o anúncio com grande expectativa, muitos perceberam que shows em solo estadunidense não haviam sido anunciados na lista de datas oficiais da turnê. Especula-se que o atual clima político dos Estados Unidos possa ser o motivo pelo que datas de shows não foram incluídas no país.



O cantor porto-riquenho demonstrou uma mudança brusca entre as localidades em que realizou shows desde a realização de sua última turnê em 2024. A “Most Wanted Tour” - que angariava a promoção do álbum “Nadie Sabe Lo Que Va a Pasar Mañana” - que levou a realização de 47 shows do cantor, sendo 31 destes concertos realizados em cidades dos Estados Unidos. Desta forma, a “Most Wanted Tour” se tornou a 5º maior turnê latina de todos os tempos, angariando números em lucros brutos de US$211,4 milhões, além de atrair um público pagante de 753.000 pessoas em seus 47 concertos.


Essa mudança da disposição em relação às turnês de Bad Bunny pode ser observada no início de 2025. Ainda no segundo semestre deste ano, o cantor realizará uma residência de 30 shows em sua terra natal. Intitulada de "No Me Quiero Ir De Aquí" - nome em referência a faixa “El Apagón” - do álbum “Un Verano Sin Ti” de Bad Bunny - que retrata os frequentes cortes de energia elétrica na ilha de Porto Rico, a residência contará com os nove primeiros shows (11 a 27 de julho) exclusivos para moradores da ilha de Porto Rico, os concertos acontecerão ao longo de todos os fins de semanas, de sexta a domingo, até a data final marcada para 24 de agosto - onde posteriormente o cantor embarca para a turnê internacional de seu último álbum.


Em sua nova turnê, intitulada de “DeBí TiRAR MáS FOTOS’ World Tour”, Bad Bunny já confirmou 23 cidades que irão receber shows da turnê em países como: Costa Rica; Colômbia; México; Peru; Chile; Argentina; Austrália; Japão; Espanha; Portugal; Alemanha; Holanda; Reino Unido; França; Suécia; Polônia; Itália; Brasil (20 e 21 de fevereiro de 2026) e com previsão de encerramento na Bélgica (22 de julho de 2026).


A nova turnê internacional do cantor porto-riquenho leva consigo a realização da promoção de seu último álbum "Debí Tirar Más Fotos” - de janeiro de 2025. Como já abordado anteriormente em análises do Latino Observatory, o projeto audiovisual do cantor, lançado este ano, traz consigo uma homenagem aos ritmos locais e uma mensagem contra o apagamento cultural na ilha de Porto Rico, que atualmente pertence aos Estados Unidos com um status de território ultramarino.


O disco de Bad Bunny é considerado ousado em questões políticas, principalmente relacionado ao contexto das eleições presidenciais norte-americanas que aconteceram em 2024. Durante o período de campanha eleitoral estadunidense, o comediante Tony Hinchcliffe satirizou a ilha de Porto Rico como uma “ilha flutuante de lixo” durante um comício da campanha do até então candidato republicano Donald Trump em outubro do ano passado. Em contrapartida, Bad Bunny expressou apoio à candidata democrata Kamala Harris e, em entrevista ao jornal The New York Times em janeiro deste ano o cantor disparou contra a fala de Tony Hinchcliffe:  “[...] Era para ser um comício político. Eu não sabia que ele era um comediante — ele estava de terno, e eu pensei: ‘Ah, ele é um político’. Aí as pessoas me disseram: ‘Não, é um comediante’. Não foi engraçado [...]”.



Em suas redes sociais, o cantor porto-riquenho provocou seu público ao revelar que deseja fazer uma turnê por lugares que nunca visitou - como o Brasil - e por outros lugares que não visita há muito tempo, como o Reino Unido. Bad Bunny não só ignora os Estados Unidos em sua nova turnê como uma forma de boicote ao atual cenário estadunidense, como muito interpretado pelo público do cantor e críticos, marcando um posicionamento contundente do artista diante das tensões governamentais no país. A decisão em deixar de fora o maior mercado consumidor de produtos audiovisuais também está atrelado à urgente necessidade de assegurar a integridade de comunidades latinas nos Estados Unidos, estas que poderiam vir a enfrentar grande exposição estando aglomeradas em shows do cantorporto-riquenho.


Ao longo do início do mês de junho, pode ser observado o escalonamento de tensões entre o governo federal norte-americano e o governo estadual do estado da Califórnia. Protestos na cidade de Los Angeles se iniciaram em resposta às operações do Serviço de Imigração e Controle de Demandas dos Estados Unidos (ICE - na sigla em inglês) contra imigrantes não-autorizados na cidade. Ao todo, foram realizadas mais de 100 prisões de imigrantes ao longo da primeira e segunda semana de junho por agentes federais, com detenções registradas em inúmeros locais - incluindo o estacionamento de uma “Home Depot”, famosa loja de material de construção norte-americana. Tamanha desordem resultou na convocação de pelo menos 300 militares da Guarda Nacional dos Estados Unidos no estado da Califórnia causando um desentendimento entre o governo central e o governo do estado. Para Gavin Newsom - governador do estado da Califórnia - o envio das tropas pode ser entendido como “inflamatório”, causando mais animosidade do que o necessário entre os manifestantes e as forças estatais.



A decisão de Bad Bunny em boicotar os Estados Unidos durante a “DeBí TiRAR MáS FOTOS’ World Tour” certamente não passará despercebida pelo grande público, a mídia especializada e até esferas políticas. A ciência do cantor porto-riquenho e de sua equipe das atuais questões da seguridade norte-americana não só evita antecipadamente qualquer ingerência de forças norte-americanas durante os concertos - como grandes polos de concentração e apreciação da comunidade latina, como também evita um possível desgaste da imagem de Bad Bunny relacionada a estas ingerências em seus shows. Ainda que o cantor não tenha dado indícios de que toda a lista das datas oficiais de sua turnê já foi anunciada, ao ignorar o maior mercado fonográfico do mundo até o atual momento, Bad Bunny gera uma situação, no mínimo, inusitada. Sendo o artista latino-americano com a segunda turnê mundial mais lucrativa de todos os tempos com a “World’s Hottest Tour” - angariando a promoção de seu álbum “Un Verano Sin Ti” com a realização de 43 shows em 2022 - Bad Bunny pode fazer história caso supere estes números com sua atual turnê internacional, ou mesmo se angariar números análogos as de suas turnês anteriores, ainda mais se o cantor e a sua equipe manterem os Estados Unidos de fora daDeBí TiRAR MáS FOTOS’ World Tour”.

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