No início de março, uma operação do ICE (Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA) no Novo México resultou na prisão de 48 pessoas, incluindo indivíduos com acusações graves e outros apenas por violações de imigração. Embora o governo tenha divulgado números e alegações em um comunicado à imprensa, organizações locais de defesa de imigrantes, como “Somos un Pueblo Unido” e a ACLU do Novo México, relataram um cenário inquietante: o sumiço de informações detalhadas sobre os detidos, o que gerou apreensão e acusações de desaparecimentos forçados.
Normalmente, prisões desse porte despertariam uma rede de respostas comunitárias, mas, dessa vez, defensores e advogados ficaram no escuro. As linhas diretas de emergência, que usualmente recebem alertas imediatos, permaneceram em silêncio. Segundo pontua o The New Yorker, a ausência de comunicação do ICE, que interrompeu reuniões regulares com autoridades locais e advogados sob ordens de Washington, agravou o clima de desconfiança. Mesmo o gabinete do senador Martin Heinrich e autoridades estaduais foram deixados sem respostas concretas.
Enquanto isso, relatos surgiram de venezuelanos deportados sob alegações frágeis e outros imigrantes detidos mesmo em meio a processos legais. Casos como o de Kilmar Armando Abrego Garcia, deportado por um erro administrativo apesar de uma ordem judicial que o protegia, ampliaram a sensação de arbitrariedade. Em muitos episódios, agentes federais agiram sem identificação, ignorando direitos básicos, o que levou juízes a intervir em alguns casos.
Para líderes comunitários, ainda segundo a matéria, o uso público de números e operações pelo ICE funciona não apenas como prática de fiscalização, mas como instrumento político, para exibir força e gerar medo. Comparações com operações históricas, como a controversa “Operação Wetback” dos anos 1950, surgem como alertas sobre o uso midiático das deportações.
Apesar de perguntas persistentes de jornalistas,
advogados e autoridades locais, o ICE se manteve opaco, recusando-se a divulgar
nomes ou paradeiros dos detidos, dificultando a verificação das alegações
feitas nos comunicados. Assim, cresce a percepção de que o governo prioriza uma
narrativa pública de segurança e autoridade enquanto marginaliza comunidades
imigrantes e esvazia os mecanismos tradicionais de supervisão democrática.