O Congresso dos Estados Unidos, de maioria republicana nas duas casas, voltou do recesso pronto para iniciar os trabalhos sobre um pacote de gastos que pode financiar uma das iniciativas mais polêmicas do governo Trump: os planos de deportação em massa. Estima-se que o montante total poderá variar entre US$ 175 bilhões e US$ 345 bilhões, somas que seriam destinadas ao Departamento de Segurança Interna (DHS), ao Departamento de Defesa e ao Departamento de Justiça, com o objetivo de fortalecer as fronteiras e ampliar significativamente a capacidade de remover imigrantes do território norte-americano, segundo informe WOLA.
O avanço dessa legislação é possível graças ao uso do mecanismo de reconciliação orçamentária, uma ferramenta rara no Congresso que permite aprovar projetos de lei por maioria simples, sem necessidade de apoio democrata. Embora a resolução orçamentária aprovada recentemente ainda não detalhe os destinos exatos dos recursos, os números já impressionam: a versão aprovada na Câmara prevê US$ 90 bilhões para o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) ao longo da próxima década, enquanto a versão do Senado prevê US$ 175 bilhões. Esses valores, somados aos US$ 100 a US$ 150 bilhões para defesa e aos US$ 110 bilhões reservados para aplicação das leis de imigração, indicam a escala monumental do projeto republicano.
Os trabalhos concretos começaram no final de abril, quando diferentes comitês do Congresso passaram a discutir os pacotes específicos. O Comitê de Segurança Interna analisará sua parte dos recursos do DHS, enquanto o Comitê de Serviços Armados tratará dos fundos para defesa, com destaque para o papel das Forças Armadas na ampliação das operações na fronteira entre EUA e México. Já o Comitê Judiciário, que se reúne no final do mês, debaterá os investimentos em atividades de fiscalização migratória.
Apesar das cifras bilionárias, há dúvidas sobre a real capacidade operacional para executar essas deportações em larga escala. O ICE, órgão central do governo para remoção de imigrantes, possui atualmente menos de 6.000 agentes dedicados à tarefa, número claramente insuficiente para uma campanha massiva. Para preencher essa lacuna, o governo Trump poderá recorrer tanto a militares em funções de apoio quanto às forças policiais estaduais e locais, especialmente nos estados de Flórida e Texas. Isso ocorre por meio dos chamados acordos 287(g), uma espécie de modelo de força-tarefa que permite que autoridades locais colaborem com o ICE. Vale lembrar que esses acordos haviam sido encerrados durante o governo Obama devido a acusações de discriminação racial, mas foram reativados sob a atual administração.
O cenário desenhado revela não apenas um esforço
gigantesco de mobilização financeira e institucional, mas também uma aposta
política arriscada: ao investir tanto em deportações e segurança de fronteira,
o governo Trump assume um compromisso que poderá provocar fortes reações
sociais, políticas e legais. Além disso, a reativação de modelos controversos
como o 287(g) reabre debates antigos sobre discriminação e direitos civis,
reacendendo tensões que, longe de resolver o desafio migratório, podem ampliá-lo
ainda mais.